Nuno Garoupa

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sexta-feira, junho 15, 2007

O meu penúltimo artigo na Revista Atlântico (Maio 07)

HOLA MADRID
Um Guia Político da Primeira Volta das Eleições Espanholas
Nuno Garoupa

As eleições municipais e regionais realizam-se em Espanha no próximo dia 27 de Maio. Quer Zapatero, quer Rajoy transformaram estas eleições na primeira volta das eleições gerais para as Cortes que terão lugar o mais tardar em Março de 2008, mas muitos apostam pela sua antecipação para o Outono. Nesta campanha eleitoral, os principais partidos espanhóis ensaiam os slogans e os temas que utilizarão nas eleições gerais. Do lado do PSOE, fala-se da guerra de Iraque e do 11M (votar contra a mentira e a guerra) bem como os avanços sociais do governo socialista. Do lado do PP, insiste-se no tema territorial, na unidade de Espanha e na política anti-terrorista. Veremos até que ponto esta campanha motivará os eleitores.

As sondagens não permitem antecipar o resultado final das eleições. As últimas eleições, as de 2003, foram marcadas essencialmente por um empate entre o PP e o PSOE. Os populares perderam menos do que se esperava então (em plena guerra de Iraque) e os socialistas não conseguiram o avanço eleitoral que esperavam (conseguiram evitar a maioria absoluta dos populares na Comunidade de Madrid mas uma história de corrupção urbanística mal contada levou à repetição das eleições em Outubro de 2003 que deram a maioria absoluta a Esperanza Aguirre). As expectativas são que pouco realmente mude desta vez.

Os socialistas devem manter os seus feudos, Extremadura e Castilla-la-Mancha (apesar de terem afastado os líderes históricos, Rodríguez Ibarra e Bono respectivamente) e muito provavelmente Aragão (que roubaram aos populares em 2003) e nas Astúrias (onde governam em coligação com o Partido Asturiano). Não se convocam eleições para os parlamentos da Catalunha, Galiza e Andaluzia onde governam os socialistas por diferentes calendários eleitorais.

Os populares devem reforçar maiorias no seus bastiões, Comunidade Valenciana, Murcia, Castilla-y-León, e La Rioja bem como na Comunidade de Madrid (onde os socialistas podem sofrer um revés histórico).

Algumas dúvidas existem na Cantábria (onde o terceiro partido, o Partido Regionalista de Cantábria, poderia seguir sendo governo com o apoio do PSOE uma vez que o PP dificilmente chegará à maioria absoluta), nas Baleares (que o PP arrebatou aos socialistas em 2003 mas onde a maioria absoluta periga nestas eleições)e nas Canárias (que o PSOE poderia ganhar mas com uma maioria insuficiente para superar a coligação entre a Coligação Canária e o PP).

Resta pois a grande incógnita e com uma enorme transcendência política: Navarra. Está claro que os populares ganharão a comunidade foral (a coligação que apoia o actual governo, UPN e CDN). Mas poderão estar longe de uma maioria absoluta o que abrirá portas a um tripartido entre socialistas, comunistas e nacionalistas favoráveis à integração de Navarra no País Basco (Nafarroa Bai). Aqui verdadeiramente se joga o futuro de Espanha. Um governo tripartido em Navarra daria um novo fôlego ao processo de paz que Zapatero mantém em banho-maria. Uma maioria absoluta da actual coligação governamental seria um espinho muito duro para o processo de paz.

Quanto às eleições municipais, não se esperam grandes novidades. Porém os resultados na Catalunha (principalmente em Barcelona) como no País Vasco (aí em Vitória e em São Sebastião) terão importância política uma vez que não se vota nessas comunidades para os respectivos parlamentos regionais. Tudo aponta em Barcelona para um possível reforço dos socialistas à custa dos seus parceiros de governo (comunistas e republicanos nacionalistas) e uma estagnação dos nacionalistas da CiU. A confirmar-se esse resultado o actual tripartido poderia voltar a sofrer de instabilidade.

No País Basco, a grande incógnita volta a ser como votará o eleitorado do ilegalizado Batasuna (o braço político da ETA). As várias fórmulas desenvolvidas pelos terroristas para tornear a Lei de Partidos que ilegaliza o braço político da ETA foram parcialmente proibidas pelo poder judicial. As sondagens indicam que nem o PNV-EA (nacionalistas actualmente no governo) nem o bloco constitucional, PSOE e PP, terão progressos significativos. Mas evidentemente que tudo está dependente do voto radical; a sua abstenção favorecerá o PSOE e o PP; o voto útil favorecerá o governo regional actual.

Tal como em 2003, espera-se que todos os partidos se declarem vencedores na noite eleitoral de 27 de Maio. Contudo, objectivamente, tratar-se-á mais de um empate que volta a empurrar para as eleições gerais o ajuste de contas entre Zapatero e Rajoy. Porém, Zapatero parte com vantagem. Podemos prever com alguma segurança que não haverá maioria absoluta nem dos socialistas nem dos populares nas eleições gerais. Mas o PSOE está melhor colocado para coligar-se que o PP. Muito terá de mudar na direita para que uma coligação estável possa ser gerada. Quer a direita catalã (CiU) quer a direita basca (PNV) já mostraram interesse em estudar a possibilidade de voltar a editar a maioria que levou Aznar ao governo em 1996, mas existem obstáculos muito importantes por ultrapassar.

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